Sistema de gratuidades do transporte coletivo brasileiro apresenta distorções e penaliza
o usuário comum; propostas buscam instituir novas fontes de financiamento
O
Brasil está em meio a um período de efervescência
sociopolítica, com a sociedade
civil e os movimentos organizados defendendo
agendas sociais de naturezas distintas.
No centro desse ciclo de insatisfação e de
convulsões populares, invariavelmente, o transporte
público está envolvido. Tal característica guarda relação
com o direito de ir e vir, expresso na Constitui-
ção Federal de 1988. Segundo o texto, todo cidadão
tem direito de locomover-se livremente nas ruas,
nas praças e nos lugares públicos. Essa prerrogativa
foi ratificada quando do advento da Política Nacional
de Mobilidade Urbana, em 2012, assegurando que
qualquer cidadão, sem discriminação, exerça livremente
o princípio da locomoção nos espaços da cidade
e nos diferentes modais de transporte.
Repensar esse segmento tem sido algo recorrente
para as políticas de governo, órgãos de planejamento
urbano, institutos de pesquisas e todos
que acreditam que a mobilidade urbana sustentá-
vel passa também pelo transporte coletivo de pessoas.
A melhoria, contudo, não está atrelada necessariamente
ao aumento de tarifas. Nesse âmbito,
insere-se o elemento das gratuidades. Estudantes,
idosos e pessoas com deficiência, e ainda algumas
categorias especiais de trabalhadores, como
bombeiros, carteiros e policiais militares, têm
garantido por lei – seja ela federal, estadual ou
municipal – o direito de circular gratuitamente, ou
com desconto, no transporte público das cidades.
No entanto, pouco se fala sobre quem custeia esse
benefício: o usuário.

“Acho justo que idosos e pessoas com deficiência tenham acesso gratuito ao uso de transportes públicos, e que estudantes paguem meia, mas isso gera, em média, um acréscimo de 20% nas tarifas, e quem ‘banca’ é o usuário”, explica Eurico Galhardi, presidente do Conselho Diretor da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano).
De acordo com estimativas
do Ipea, as gratuidades custariam
aos cofres públicos em
torno de R$ 70 bilhões anuais.
Para se ter uma dimensão da cifra,
o governo federal gastará,
neste ano, com o Bolsa Família,
seu principal programa de inclusão social, R$ 28,8 bilhões.
Em São Paulo, estima-se que
seria necessário desembolsar
R$ 7,7 bilhões anuais para sustentar
a gratuidade universal —
o equivalente à arrecadação
com o IPTU na cidade.
Na avaliação de especialistas,
o melhor caminho, no médio prazo,
para atender ao anseio da sociedade
por um transporte coletivo
economicamente acessível e
de boa qualidade, que responda,
efetivamente, às necessidades da
população, passa necessariamente
pela viabilização de novas fontes
de financiamentos para esse
serviço público, sobretudo em
função do momento de crise econômica
pelo qual passa o país.
Essa solução só será possível
pelo estabelecimento de novos tributos
que devem taxar aqueles
que são beneficiados por um
transporte público eficiente, como
os usuários de automóveis e os
proprietários de imóveis valorizados
por sistemas de transporte. No
entanto, organizações que levantam
a bandeira utópica da universalização
total das gratuidades
também têm sua função social.
“Isso pressiona os gestores públicos
a pensar alternativas de aprimorar
todo o sistema de transporte
público”, diz Dario Lopes.
Leia mais: Revista CNT
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